A Comissão de Relações Exteriores (CRE) fez nesta quinta-feira (23) uma audiência pública com o diretor do King’s Brazil Institute, o cientista político inglês Anthony Pereira, informa a “Agência Senado”. O King’s Brazil Institute atua no âmbito do tradicional King’s College de Londres, efetua pesquisas sobre o Brasil e também promove a integração com pesquisadores e estudantes do nosso país.
Pereira destacou que o Reino Unido passa agora por um momento de muita importância em sua política interna. Isso porque iniciou-se nesta quinta-feira o processo de votação para o Parlamento Europeu, em que eleitores britânicos e de outras 27 nações que fazem parte da União Europeia (UE) escolherão até domingo 751 deputados, com bancadas representativas que levam em conta, entre outros critérios, o tamanho da população de cada país.
Pereira espera que especificamente o resultado desse processo no Reino Unido possa aclarar um novo cenário de consenso para o país, após o difícil processo de negociação visando à saída da UE. Decidida após plebiscito em 2016, a saída do Reino Unido da UE foi popularizada com o nome de Brexit.
Brasil pode ganhar
Para Pereira, o Brasil pode ser beneficiado pelo Brexit. Isso pode acontecer pelo aumento da exportação de produtos agrícolas para o Reino Unido e pela assinatura de um acordo comercial com o Mercosul.
“É muito possível que as relações comerciais do Reino Unido necessitarão de mudanças após a saída da UE. Só para ficar num exemplo, hoje uma porcentagem alta de produtos alimentícios importados pelo país são provenientes da Europa continental. Mas essas cotas de importação não são necessariamente fixas. Esse mercado britânico pode ser aberto para produtores brasileiros, que são muito eficientes na agricultura. É uma janela de oportunidades que pode se abrir. A Grã-Bretanha historicamente não é adepta à adoção de barreiras agrícolas numa dimensão como a que marca alguns de seus parceiros na UE. Somos mais liberais”, disse.
Pereira também não descarta que o Brexit possa fazer com que avancem negociações para que o Reino Unido e o Mercosul fechem um acordo comercial.
“Lembro que em 2016 o diplomata Roberto Jaguaribe, quando era presidente da Apex [Agência Brasileira de Promoção de Exportações] e participava de um evento em Londres, reclamou que as negociações da UE com o Mercosul já se arrastavam havia quase 20 anos. E sugeriu um acordo entre Reino Unido e Mercosul, em que as negociações seriam significativamente mais fáceis. Penso que as barreiras neste caso seriam muito menores. Não duvido que um acordo UE-Mercosul acabe jamais saindo do papel”, explicou.