Crise de abastecimento de óleo de coco atinge o mercado brasileiro com força local

Crise do óleo de coco afeta mercado brasileiro
Imagem: Canva

O mercado global de óleo de coco enfrenta um período de turbulência sem precedentes, caracterizado por uma disparada nos preços, escassez de oferta e uma demanda global persistentemente alta. Em março de 2025, os aumentos significativos nos preços do óleo de coco, especialmente o proveniente da Indonésia, sinalizam uma crise que, segundo especialistas do setor, será sustentada por uma complexa interação de fatores climáticos, geopolíticos e mercadológicos.

No epicentro dessa crise estão os impactos das condições climáticas adversas nas principais regiões produtoras. O fenômeno La Niña, com seus efeitos prolongados de chuvas excessivas, inundações e tufões, tem afetado drasticamente os volumes de produção de coco, especialmente nas Filipinas e na Indonésia, que juntas representam 55% da produção mundial. Essa variabilidade climática, somada ao aumento da pressão de pragas, é particularmente devastadora em regiões dominadas por pequenos produtores, dificultando a recuperação da produção e agravando a escassez de oferta.

Impactos nas exportações e obstáculos internos no Brasil

Com a produção estagnada, a Indonésia, um dos maiores produtores, está sob crescente pressão. A situação se tornou tão crítica que o país chegou a considerar uma proibição temporária das exportações de coco para apoiar seu setor doméstico – uma medida drástica, mas já utilizada em 2022 com o óleo de palma, quando as exportações foram suspensas por um mês. Essa priorização das necessidades internas pelos países fornecedores limita ainda mais a disponibilidade no mercado global.

No Brasil, o cenário local adiciona outra camada de complexidade à oferta. De acordo com fornecedores, especialmente da região Nordeste, a demanda do Sudeste pelo coco fruta está alta e pagando muito bem. Isso faz com que os produtores prefiram vender o coco in natura, gerando dificuldade e escassez da fruta para o processamento do óleo de coco no mercado interno. A extração do óleo de coco depende da polpa seca, a copra; quando há desvio da fruta para outros mercados, a matéria-prima simplesmente deixa de estar disponível. Processadores locais enfrentam a desafiadora realidade de que o problema não é apenas o custo elevado da matéria-prima, mas a ausência do fruto em si, sem precedentes históricos que indiquem uma melhora imediata. O Ceará, principal produtor de coco seco no Brasil, tem grande influência na precificação do óleo de coco nacional.

Demanda global cresce apesar da crise

Paralelamente à restrição da oferta, a demanda global por óleo de coco continua crescendo. Consumidores, especialmente na Europa e América do Norte, buscam cada vez mais produtos naturais e ecologicamente corretos, impulsionando o uso do óleo de coco em diversas aplicações. Trata-se de um ingrediente versátil, amplamente utilizado nos setores alimentício, de cosméticos e, no mercado brasileiro, também muito presente em produtos de higiene e limpeza.

Um fator adicional que intensifica essa demanda é a guerra entre Ucrânia e Rússia. Sendo esses países os maiores produtores de óleo de girassol, as dificuldades de aquisição forçaram os compradores globais a buscar substitutos – e o óleo de coco emergiu como uma alternativa vital, contribuindo diretamente para a elevação de seus preços. Além disso, a crescente incorporação do óleo de coco em aplicações de energia renovável, como o combustível sustentável de aviação (SAF), segundo a International Coconut Community, adiciona uma nova camada de complexidade à demanda, criando competição entre usos tradicionais e emergentes.

Pressão sobre os preços e impactos no mercado

A consolidação dos preços do óleo de coco no início de 2025 é um reflexo direto dessa dinâmica de oferta e demanda. O preço do óleo já subiu mais de 24% desde o início da primavera. De acordo com a International Coconut Community, o estoque remanescente de 2024, estimado em 600 mil toneladas, deve cair para 550 mil toneladas até meados de 2025, indicando uma disponibilidade ainda menor e, consequentemente, sustentando níveis de preços mais elevados.

Essa situação intensifica a competição com o óleo de palmiste, seu principal substituto. Embora o óleo de palmiste apresente perspectivas de produção ligeiramente mais favoráveis, a tendência é que a diferença de preço entre os dois óleos se reduza cada vez mais, refletindo a crescente pressão competitiva no mercado de óleos comestíveis. A competitividade do óleo de palmiste, portanto, desempenhará um papel crucial na definição dos padrões de comércio e dos preços do óleo de coco no futuro.

Efeitos colaterais da crise e desafios internos

Um reflexo direto da escassez e dos preços elevados é o surgimento de produtos adulterados no mercado. Em Kerala, na Índia, por exemplo, o mercado de óleo de coco e seus derivados enfrenta um revés significativo, com a proliferação de óleo falsificado, aproveitando a valorização do produto legítimo.

O ambiente econômico global também exerce influência, afetando a renda disponível, os padrões de consumo e os fluxos comerciais. Enquanto a ênfase contínua na sustentabilidade nos mercados desenvolvidos deve sustentar a demanda por óleo de coco certificado e de origem responsável (que geralmente possui um preço premium), pressões econômicas em regiões sensíveis a preços podem comprometer o crescimento do consumo, levando consumidores a optarem por alternativas mais baratas, como o óleo de palma ou outros óleos vegetais.

No Brasil, a ausência de apoio governamental à produção de coco representa um gargalo significativo. O setor acredita que incentivos poderiam estimular o plantio e garantir maior disponibilidade de matéria-prima.

Em suma, o mercado de óleo de coco vive um momento de encruzilhada. A recuperação da produção depende da estabilização das condições climáticas e do controle das pragas, enquanto a demanda continua em ascensão, impulsionada por tendências de consumo e aplicações emergentes em energia. A complexa interação entre oferta restrita e demanda crescente continuará ditando os rumos e os preços desse valioso óleo nos próximos meses e anos.

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