
A China quer lidar com a União Europeia como parceira e não como rival, disse o embaixador chinês na Espanha, em meio a mudanças geopolíticas e à nova política comercial dos Estados Unidos, que ele descreveu como abuso econômico unilateral.
Yao Jing disse à Reuters que a estratégia da UE para 2019, que definiu a China como seu “parceiro para cooperação, concorrente econômico e rival sistêmico”, faz pouco sentido, já que ambos defendiam mercados abertos e comércio baseado em regras.
“Devemos nos concentrar na parceria. A China nunca será uma ameaça ou qualquer tipo de inimigo para a UE”, disse Yao, elogiando a abordagem multilateral do bloco em relação às relações exteriores, em oposição à agenda isolacionista do presidente dos EUA, Donald Trump.
Na semana passada, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, se reuniu com o presidente da China, Xi Jinping, em Pequim. Muitos interpretaram a visita como uma tentativa da China de estreitar os laços econômicos e políticos com a Europa em meio às consequências das tarifas de Trump.
Pouco antes da viagem de Sánchez, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, alertou que se aproximar do país asiático seria “cortar sua própria garganta”, um comentário rejeitado por Madri.
Yao disse que ficou chocado com as observações de Bessent, acrescentando que os EUA “de fato cortam a garganta de todos” com suas tarifas unilaterais.
“E é por isso que a China é firmemente contra esse tipo de abuso econômico por parte dos Estados Unidos”, disse ele.
“Porta aberta”
Yao disse que a Europa deveria abandonar seus controles de exportação sobre certos produtos de alta tecnologia, incluindo semicondutores. Também afirmou que as tarifas sobre veículos elétricos chineses (VEs) deveriam ser eliminadas. Além disso, criticou as limitações impostas a empresas chinesas, como Huawei ou ZTE, para acessar a rede 5G da Europa.
Pequim, por sua vez, vem abrindo setores como telecomunicações, bancos ou manufatura para investimentos estrangeiros, disse ele.
Yao disse que o déficit comercial da UE com a China, de cerca de US$345 bilhões no ano passado, não poderia desaparecer da noite para o dia. Isso se deve a questões estruturais. No entanto, ele esperava um progresso gradual.
China flexibiliza restrições à carne suína europeia
“Deixamos bem claro que a China abrirá suas portas com o passar do tempo, e essa porta nunca será fechada. Estamos prontos para abrir nosso mercado para outros membros da UE, como acabamos de fazer com a Espanha”, disse ele.
Os dois países concordaram, na sexta-feira, em permitir o acesso do mercado chinês ao estômago de porco espanhol. Os chineses consomem amplamente esse produto, mas as autoridades não o autorizavam anteriormente. Alguns analistas viram essa decisão como um sinal de que Pequim poderia aliviar sua investigação antidumping sobre a carne suína da UE. A China lançou essa investigação no ano passado, em retaliação às tarifas da UE sobre os veículos elétricos chineses.
Yao disse que a investigação estava em andamento, mas que havia uma disposição para resolver as diferenças por meio de negociações.
Fonte: David Latona | Notícias Agrícolas